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O que é um livro?

O que é um livro?
O livro é a forma mais antiga de documentação; ele registra o conhecimento, as ideias e as crenças dos povos e sua história está intimamente ligada à história da humanidade. Nesta primeira parte iremos examinar brevemente suas origens; considerar definições do que seja um livro; analisar como ele é criado e identificar as várias funções dentro da indústria editorial; esclarecer alguns dos termos usados para descrever os componentes físicos de um livro; e, por fim, discutir as várias maneiras de fazer design de livros.

Passado, presente e futuro
Os livros têm uma longa história que se desdobra há mais de quatro mil anos; iremos apresentar um breve vislumbre de suas origens remotas. Vamos examinar os termos relacionados ao livro, isso nos dará, além de uma perspectiva histórica, uma compreensão mais profunda sobre ele próprio.

As origens do Livro
A palavra "book" deriva-se de uma velha palavra inglesa bok oriunda de "beech tree" (faia, tipo de árvore). Em português a palavra livro deriva-se do latim líber. Os saxões e os germânicos usavam as tábuas de faia para escrever, sendo a definição literal de um livro "tábua para escrita". O termo códex, usado para se referir aos livros ancestrais, como, por exemplo, os manuscritos bíblicos, tem origens similares. O termo códex , é a versão em latim para "tronco de árvore", de onde se tiravam as tábuas que serviram como superfície de escrita. Quando nos referimos às folhas de um livro, estas nos remetem ao material orgânico da superfície de escrita usada pelos antigos estudiosos egípcios - as largas folhas planas das palmeiras egípcias eram usadas para esse fim. Mais tarde, com o advento do papiro, seus talos foram triturados, entrelaçados e secos, formando uma superfície adequada à escrita, portanto, apta a receber tinta.
Podemos dizer que os primeiros designers de livros foram os escribas egípcios, que redigiam seus textos em colunas e já faziam uso de ilustrações. A escrita egípcia não era apresentada na forma de livro como o conhecemos, mas em rolos - as folhas de papiro eram coladas umas às outras e enroladas em forma de cilindro que chegava a medir até 20m de comprimento. O papiro continuou sendo usado em todo o mundo antigo como o principal suporte de escrita, embora amostras de escritas egípcias, gregas e romanas também tenham sido encontradas ern couro e peles secas de animais. Foi provavelmente Eumênio II, rei de Pérgamo (197-158 a.C.) , na Ásia Menor, quem primeiro pesquisou o uso de peles de animais como uma alternativa ao papiro, que teve sua exportação proibida por Ptolomeu Epifânio, de Alexandria. Os sábios do reino de Pérgamo produziram uma pele de animal (carneiro) com dois lados, que após ser esticada em um caixilho, era secada, branqueada com giz e, então, polida e alisada com pedra-pomes. Daí a origem do pergaminho, de membrana pergamena, pergamenum.
Johannes Gutenberg produziu a primeira edição impressa da Bíblia em 1455. A Bíblia se transformou no trabalho mais publicado da história, disseminando através da Europa e por todo o mundo as crenças sobre as quais se basearam as culturas judaica e cristã. 
As origens do códice de pergaminho encadernado podem estar ligadas às antigas práticas gregas e romanas de conectar, ao longo de uma das margens, blocos de madeira cobertos por cera. As propriedades materiais do pergarninho propiciaram o desenvolvimento do códex. O pergaminho era feito em tamanho maior que o frágil papiro e aceitava ser dobrado sem se danificar. O códex propiciou o fim da tradição do rolo de papiro; a partir dele as folhas podiam ser ligadas borda com borda, dobradas e depois empilhadas e atadas ao longo de uma das margens. A dobra das grandes folhas de pergaminho ao meio criou dois fólios (do latim foliu termo usado atualmente para se referir ao número das páginas de uma publicação); quando se continuou a dobrar a folha ao meio, foram criadas quatro páginas, conhecidas como in-quarto ou 4to; dobrando-as novamente ao meio foram criadas oito páginas in-oitavo ou 8vo. Todos esses termos são usados atualmente para descrever tamanhos de papel derivados de folhas dobradas. Os escribas gregos e romanos seguiram o princípio do papiro egípcio para o códex, ao escreverem as páginas em colunas. A palavra página, usada para denominar o lado de uma folha, advém do latim pagina, que significa "algo atado", refletindo suas origens na encadernação e não no acabamento em forma de rolos, próprio do papiro.
O escriba real egípcio Hunefer escreveu o Livro dos Mortos por volta de 1300 a. C., quando trabalhava a serviço de Seti, faraó do Egito. O texto foi composto em colunas estreitas divididas por fios. A imagem dos frisos permeia as colunas e é aumentada para ilustrar as cenas mais importantes.
O papel, palavra derivada de papyrus ern latim ou pápyros do grego, foi desenvolvido na China por volta de 200 a.C., embora a história oficial chinesa afirme que o papel foi desenvolvido pelo eunuco Tsai Louen, diretor das oficinas imperi ais, em 104 d.C. Os primeiros papéis chineses foram confeccionados com a casca da amoreira ou com o bambu cuja polpa esmagada era transformada em fibras, espalhada sobre um tecido e deixada assim para secar. Por volta de 751 d.C., a produção de papel havia se espalhado pelo mundo islâmico e, por volta do ano 1 000, ele já era produzido em Bagdá. Os mouros levaram seu conhecimento sobre a confecção de papel para a Espanha, e o primeiro moinho de papel da Europa foi fundado em Capellades, na Catalunha, em 1238.
Johannes Gutenberg, nascido em Mogúncia, cidade da Alemanha, produziu o primeiro livro europeu impresso usando tipos móveis no ano de 1453. A Bíblia de Gutenberg (bíblia de 42 linhas), impressa em latim, foi fruto de tecnologias diversas. Ele conhecia o trabalho em metal e tinha familiaridade com as prensas usadas para esmagar uvas no processo de fabricação do vinho. Possuía e lia os códex encadernados e sabia da existência do papel. O status não oficial de Gutenberg como "o pai da impressão", deriva de uma visão um tanto enganosa e eurocêntrica da história. Os tipos móveis fundidos em molde de areia já tinham sido usados na Coréia em 1241; um livro coreano datado de 1377 exibe a informação de ter sido impresso por tipos móveis. Os chineses usavam a impressão em blocos de madeira desde o século VII para produzir cartas de baralho e cédulas de dinheiro, que estavam em circulação desde 960 d. C Enquanto em 868 d. C., um. cânone do budismo Theravada, o livro Trípitaka, foi impresso em papel na China, envolvendo o corte de 130 mil blocos de madeira para impressão xilográfica (tipografia xilográfica).
Apesar das discussões acadêmicas sobre a data exata da invenção da impressão, o impacto do livro impresso sobre o desenvolvimento da Europa Ocidental é menos contestável. Desde os tempos dos romanos, o alfabeto ocidental de 22 letras era usado na escrita manual e cada letra, palavra ou sentença de um livro manuscrito era criada individualmente: um artesão, um artefato. O tipo móvel e seu descendente, o livro impresso, permitiram que uma única pessoa, após compor um texto, pudesse reproduzi-lo. Os primeiros tipógrafos eram responsáveis pela composição e criação do layout das páginas, além de cuidaren1 da reprodução do texto. O livro impresso industrializou a produção da linguagem. O método de impressão é mais rápido que a cópia caligráfica e, como consequência, os textos se tornaram economicamente acessíveis e bastante disponíveis.

A busca por uma definição: o que é um livro?
Estabelecida as origens das palavras "livro" e "códex" e alguns dos termos correlatos, parece sensato pensar que uma definição clara do que vem a ser um livro seria de grande ajuda. O Concise Oxford Dictionary apresenta duas possibilidades:


  1. "Tratado portátil manuscrito ou impresso que preenche uma série de folhas encadernadas, vinculadas umas às outras"; 
  2. "Composição literária que preencha um conjunto de folhas". 

O Dicionário Houaíss por sua vez define assim: "coleção de folhas de papel, impressas ou não, cortadas, dobradas e reunidas em cadernos cujos dorsos são unidos por meio de cola, costura etc. , formando um volume que se recobre com capa resistente".

Essas simples definições identificam duas importantes características: a descrição fisica de um conjunto portátil de folhas impressas encadernadas e uma referência à escrita e à literatura. A Encyclopaedia Britannica oferece por sua vez nas duas definições:

  1. " ... uma mensagem escrita (ou impressa) de tamanho considerável, destinada à circulação pública e registrada em materiais leves, porém duráveis o bastante para oferecerem uma relativa portabilidade";
  2. "Instrumento de comunicação".

Essas definições introduzem as ideias de público leitor e comunicacão. Na Encyclopedia of the Book (1996), Geoffrey Ashall Glaister fornece dados a respeito do custo e extensão do livro:
- "Para propósitos estatísticos, o mercado editorial britânico já considerou que um livro era uma publicação que custava seis pences ou mais".
Outros países definem um livro como um volume com um número mínimo de palavras; uma conferência da UNESCO em 1950 definiu un1 livro como:
- "uma publicação literária não periódica contendo mais de 48 páginas, sem contar as capas".
Essas definições nascerarn claramente de preocupações legais e regulamentações tributárias. Enquanto as descrições físicas de folhas e ligaduras são precisas, nenhuma das definições acima parece capturar a influência ou o poder de um livro. Talvez possamos estimular uma discussão mais ampla, se eu apresentar uma definição de minha autoria:
Livro: um suporte portátil que consiste de uma série de páginas impressas e encadernadas que preserva, anuncia, expõe e transmite conhecimento ao público, ao longo do tempo e do espaço.

A indústria editorial: o valor comercial do livro
O mercado editorial atualmente é um negócio que envolve grandes cifras. A maior editora do mundo em 1999 era a Bertelsmann AG, um grupo editorial com sede na Alemanha, que obteve um lucro de cerca de 27 bilhões de marcos (mais de 14 bilhões de dólares) - valor maior que o total da economia de muitos países. O número de livros impressos no mundo aumenta a cada ano, embora o volume exato seja de dificil apuração,já que muitas publicações não usam o número padrão internacional de livro, ISBN - método utilizado para a codificação e monitoramento de livros. Não se sabe quantos livros foram impressos desde 1455, nem mesmo a quantidade de livros existentes nas bibliotecas pelo mundo afora, uma vez que muitos permanecem não catalogados.
A Grande Biblioteca de Alexandria fundada no século Ill a.C. pelo rei egípcio Ptolomeu Soter e destruída por um incêndio em 640 d.C., tinha algo entre 428 mil e 700 mil pergaminhos e foi a mais extensa biblioteca do mundo antigo. Atualmente, o catálogo da Library of Congress, a biblioteca nacional dos Estados Unidos, exibe 119 milhões de itens em 460 línguas; enquanto a British Library, a biblioteca nacional da Grã-Bretanha, declara possuir 150 milhões de itens nas "línguas mais conhecidas". A taxa de aquisição da British Library é de 3 milhões de itens por ano. Ela guarda uma cópia de todos os títulos publicados em inglês e abriga imensas coleções
internacionais. No Brasil a Fundação Biblioteca Nacional tem o mesmo procedimento, regulamentado pela Lei do Depósito Legal no 10.994 de 14 de dezernbro de 2004*. A maior livraria do mundo é a Barnes and Noble, situada no número 105 da Quinta Avenida, em Nova York, e contém 207 mil metros de estantes repletas de todo tipo de publicação.

A nova tecnologia: o futuro do livro
A simples amplitude do conhecimento preservado nas bibliotecas somada ao número de publicações produzidas anualmente irnpossibilita-nos imaginar um mundo sem livros. Sua influência e efeitos são incomensuráveis; no ano 2000, Gutenberg foi eleito o indivíduo mais significativo do último milênio pelos leitores do jornal britânico The Times. O tipo móvel que inventou possibilitou a produção dos livros impressos e criou a primeira forma de mídia de massa. Ao final do século XIX e início do XX, uma nova forma de núdia chegou com o desenvolvimento de sistemas de comunicação baseados em áudio : o telefone, o rádio e os dispositivos de gravação de som. Mais tarde, o cinema e a televisão somaram o som à imagem em movimento. Contudo, o livro impresso, juntamente com seus rebentos - os jornais, os periódicos de toda sorte e as revistas - permaneceram como a principal forma escrita de comunicação de massa.
Com a invenção da tecnologia digital e a criação da internet, se previu o fim da impressão e a morte do livro foi proclamada como iminente. Embora a tecnologia digital tenha revolucionado a escrita, o design, a produção e a venda de livros, até a presente data a World Wide Web não foi capaz de substituí-lo. Os aficionados otimistas são encorajados pelo aumento anual nas vendas de livros, apesar do advento internet e sua consequente disponibilização de textos. Por outro lado, os pessimistas citam o gradual declínio na venda de jornais, uma situação que segundo seus prognósticos também ocorrerá na área dos livros. Entretanto, isso é contrariado pelo aumento do número de títulos e vendas gerais de revistas e periódicos especializados. O mercado da informação parece estar em eterna expansão, e a nova tecnologia de leitura na internet está ampliando - no lugar de substituir - o consumo de seu primo mais velho, o livro. Ler na tela do computador continua a ser menos prazeroso que ler uma página em papel. Todavia, conforme a tecnologia vai aprimorando a leitura na tela e os novos provedores passam a oferecer a possibilidade de baixar livros, pode ser que o modelo MP3 de distribuição de música, que tem se mostrado tão bem-sucedido, venha a ser, no futuro, uma alternativa para o livro tradicional.

O poder da palavra impressa: a influência dos livros
O livro impresso tem sido um dos meios mais poderosos para a disseminação de ideias e mudou o curso do desenvolvimento intelectual, cultural e econômico da humanidade. Pode-se ter uma medida dessa influência apenas considerando-se alguns deles: a Bíblia, o Corâo, o Manifesto Comunista, Quotatíons from Chairman Mao Zedong (o famoso Pequeno livro vermelho de Mao Tsé-Tung) e o Mein Kampf (Minha luta) de Hitler.
Os pensamentos do líder chinês Mao (Zedong) Tsé-Tung foram compilados em seu famoso Pequeno livro vermelho (Quotations from Chairman Mao Zedong). Essa coleção de pensamentos inspiradores, orientação moral e preceitos ditatoriais foi distribuída, através da China, para todos os trabalhadores, independentemente de seu nível de alfabetização. Mao buscou dar à imensa população rural uma noção de orgulho nacional e procurou disseminar as ideias de posse coletiva, apresentando uma alternativa radical ao capitalismo.
Ainda que seja impossível quantificar a influência coletiva desses livros na vida de milhões de pessoas ao longo da história, fica claro que estabeleceram muitas das bases religiosas e políticas de grande parte do mundo moderno. Uma lista similar poderia ser elaborada com os títulos gue serviram de apoio aos fundamentos da Medicina, Ciência, Psicologia, Literatura, Teatro e assim por diante - de fato, pode-se fazer o mesmo para todas as disciplinas intelectuais. Tais livros são conhecidos globalmente, suas ideias e seus autores podem ter sido tanto reverenciados quanto denegridos, entretanto, sem o trabalho de profissionais que sempre são esquecidos - o designer e o impressor de livros - a influência das ideias contidas nessas obras teria sido transitória.

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